quarta-feira, 14 de outubro de 2009

o que faz sentido?

a vida inicial do caminho preferido, como que vai e um dia some no esplendor inevitável da consciência, através dos olhos, sobretudo, alucina a burocracia reservista. sem saber em que águas se afogar, caindo na angústia de que somos, sobra somente um calejo da vida. sabendo que, ao olharmos no espelho, veremos o que temos e o que nos consome, aquilo que procuramos alí não está mais. e tudo enfim torna-se rotativo, como um ciclo de águas poluídas. guardando a iniciativa duvidosa do que podia ter sido e ainda assim sobrevive, guia o mundo sem que nenhuma direção siga. o medo, assim, cai em desespero, caindo a distância entre uma constante irregular. dependendo disso e de que tudo nem sempre é nada e faz sentido, corro, para que o vento não siga sozinho, sigo sozinho, para que o sentido não corra com o vento.



michell barros.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

É mesmo, mas e aí?


Mas o que será que me consome?
A angústia do que sou, a ausência do que tenho
A beleza de viver; é, somente viver!!
Alguma coisa ainda me deixa viver
Mas até quando conseguirei manter enjaulado
O ser desprezível aos teus olhos?
O ser é amado por mim e sacode as grades
Em briga com o ser de fora, o eu, querendo sair.
Mesmo sabendo que as grades estão enferrujadas
E não são mais tão confiáveis,
Continuo alimentando a idéia de que
Um dia tudo se resolve,
Mesmo sabendo que tais dias presentes
Estão em um futuro bem próximo
Ou quase passado.
Então, porque ainda me olhas assim,
Se já sabes dos meus segredos ainda não revelados?
Entendo perfeitamente!
Sei que ainda sou esse ser desprezível aos teus olhos,
Mas eu vivo, é, sou feliz e digo mais...
Sou esse ser feliz e desprezível!



Michell Barros
26/09/07

sexta-feira, 17 de abril de 2009


Último suspiro

À Augusto dos Anjos


Nasci, ahhh!
Cheguei ao mundo de repente
Livrei-me da parede
A que estava ligado
Não precisarei mais dela
Para poder sobreviver.
Mãe! Oh, que bonitinho!
Os primeiros passos dei
Passos para um mundo cruel
Agora a ele estou ligado
Como você cresceu!
Ah é! Cresci, que coisa!
Não sou mais aquele ser indefeso
Agora tudo é diferente
Vejo o mundo com outros olhos
Tenho amigos, e que amigos!
Alguns deles me levam ao abismo
Eu pulei! Como pude?
Como sair desse pesadelo?
Agora tudo é diferente!
Não só! Está tarde
Loucura, dependência
Quebrei os pilares que sustentavam
Toda uma geração
Está escuro, ahhh!
Morri, livrei-me daquele mundo cruel
Prendi-me à escuridão eterna
Voltei a ser aquele ser indefeso
Vermes, ahhh!


Michell Barros

sexta-feira, 3 de abril de 2009



E-FEITOS SONOROS


UÍUÍ, VRRRROOOMMMMM, RRUUUUMMM,
TRRRRRTRRRRR, BÍBÍÍÍÍÍ, SLIFTSLAPT,
ZUUUUZUZU, FIUFIUFIUFIUFI, BLÁBLÁBLÁBLÁ,
TECTECTECTEC, PRESEEENTEE!!!
NHÃNHÃNHÃ, ÃH? TITITITITÁ,
SHUMSHUMSHUM, PSSSIUUU…
XULAPXULAPXULAP, XIIIIIXIIIIIII,
PÃÃ, ACOOORDA MENIIINOOOO!!!
E O MENINO ACORDA CEGO.


MICHELL BARROS
09/01/2009




sábado, 28 de março de 2009

- sopa de Clarice Lispector. deguste-a.


Viver e escrever
“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.” “Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura. O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.” “Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”.

°°°


"Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar."


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Ideal de vida
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la. [...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.É pouco, é muito pouco.”